Logo, tudo pronto, voltamos a pegar a estrada e entramos na Rod. 1, a Glenn Highway, mais conhecida por ser uma rodovia de cinema. Ela é cheia de lagos com águas cristalinas, e, em sua borda, várias casas, muitas com seus pequenos hidroaviões na frente de casa. Fui saber que aqui no Alaska tem a segunda maior frota de aviões de pequeno porte do mundo. E realmente em cada povoado tem uma pista pequena, ou mesmo os lagos servem de pista. Muito legal isso. Creio que com a distância, e como nem sempre se tem acesso a estradas, o melhor meio aqui é o avião. Dizem ainda que se com 14 anos de idade fizer a prova teórica e passar pode começar a voar acompanhado pelo instrutor até a aprovação da licença. Daí em diante pode voar sozinho. Aqui no Alaska é mais fácil tirar a licença de piloto (se passar nas provas) do que licença para dirigir automóvel.

Depois de um certo tempo na estrada resolvemos parar o “Bisão” numa RestArea e passar a noite. Tinha mais três RVs conosco.

Levantamos no dia seguinte, um dia de sol maravilhoso, mas para a nossa alegria não muito quente. O pessoal que veio para o Alaska no verão falou para nós que era muito quente nesta época por aqui. Mas, segundo os moradores locais, está sendo um verão atípico e por isso um pouco mais chuvoso e, com isso, as temperaturas estão mais amenas.

Seguindo nesta rodovia, pegamos um desvio até o Lake Louise (tem aqui também um lago com este nome, igual ao Canadá), e na volta paramos numa pedreira e fizemos o nosso almoço. Depois, retornamos para a Rod.4 (Richardson Highway) e seguimos até o St. Elias National Park & Preserve, onde no centro de visitantes tem banheiros limpos, informação turística, trilhas e também um cinema onde passam filmes sobre o referido parque para que todos os visitantes tenham conhecimento sobre as atividades e da importância do Parque. A estrutura dos parques nos EUA e Canadá é de ADMIRAR.

Já no final da tarde, pegamos a estrada novamente e paramos para dormir num parking na estrada com vista para o Willow Lake.

Acordamos de manhã com uma bela vista para as montanhas e o lago. Rotina cumprida, pegamos a estrada com destino a Valdez. No caminho tem a Worthington Glacier, com bom estacionamento e várias trilhas em torno do Glacier. Uma geleira fantástica e você chega bem abaixo dela. Vi algumas pessoas subirem até ao cume de uma montanha ao lado para ter uma vista melhor do Glacier. A meu modo de ver, muito arriscado, pois o caminho é estreito e íngreme e, com o vento que estava soprando, nada tranquilo. Mas quando se é mais jovem… bem, resolvemos almoçar no local. Depois continuamos subindo pela rodovia que nos leva ao Passo Thompson, com vistas lindíssimas das montanhas. E, quando descemos, a estrada serpenteia dentro de um cânion maravilhoso cheio de cachoeiras vindas do derretimento da neve acima das montanhas. Essa estrada nos leva a vários lagos e um rio que nos acompanha até a cidade de Valdez.

A cidade de Valdez é pequena, voltada para a pesca, e também passa por aqui o ferry que navega pelos fiordes, cercada de montanhas cobertas de neve e ainda com um mar de cor esverdeada. Encontramos uma brasileira de Goiás casada com um americano muito gentil, e eles nos deram várias dicas. Nesta cidade tem um centro de informação ao turista com wi-fi e muito material de divulgação e mapas. Ainda no final da tarde fomos até o outro lado da baía onde tem o terminal da Pipeline (oleoduto que vem de Prudhoe Bay). Estivemos no Ártico onde começa o Pipeline e chegamos até o seu final que é em Valdez. O Pipeline nos acompanhou em toda a viagem até Prudhoe Bay e para nós isso também foi uma conquista saborosa.

Logo na volta do terminal da Pipeline tem um rio que desemboca nesta baía onde os salmões vêm para tentar entrar. Mas é protegido por rede, pois vai para uma concessionária de energia elétrica. A aglomeração de salmões é muito grande, não tinha visto nada igual. Ali concentram-se também leões marinhos, lontras, pássaros, alem do urso, para saborear salmão. Não vimos nenhum urso, somente os outros animais marinhos. Ninguém pode pescar esses salmões na entrada do rio, somente com uma distância acima de 300 pés. Saímos dali e fomos dormir no meio da montanha, próximos a uma área de escape.

No dia seguinte de manhã, era o aniversário da Valquíria e comemoramos em Valdez com um belo café da manhã e um almoço caprichado. Passamos o dia passeando em Valdez e no final da tarde resolvemos retornar pela mesma Rodovia 4, a Richardson Highway, que às vezes se confunde e tem o mesmo número 1, pois a Glenn Highway (Rod.1) no entroncamento de Gakona Junction segue com o mesmo número 1, mas com o nome de Tok Cutoff, que vai até a cidade de Tok, para onde vamos amanhã.

Seguimos como planejado até a cidade de Tok. Ali fomos na informação turística para saber mais sobre dois caminhos. O primeiro para Dawson City e o segundo para Inuvik. Bem, ir para Inuvik não estava dentro do planejado da nossa expedição. Seria mais uma oportunidade de ir além do Círculo Polar Ártico novamente. Mas a estrada não estava muito boa, pois é toda de saibro e também tinha focos de incêndios. Por bem, resolvemos abortar este plano. Bem, restou-nos ir a Dawson City, pois não conhecíamos e teríamos que ir até Whitehorse, onde tem o entroncamento para Skagway e Haines, que será o nosso destino ainda no Alaska.

Como já falei, pegamos a Rod. 5, de nome Taylor Highway, até a fronteira com o Canadá na cidade de Boundary. As últimas 36 milhas foram todas em estrada de chão e em alguns lugares tinha saibro. Ainda bem que não choveu, pois seria muito penoso para andar. A estrada é muito bonita, passando por muitos vales e montanhas. Próximo à Boundary, veio o asfalto, e em cima das montanhas tinha um lugar com a vista maravilhosa. Resolvemos dormir neste lugar, somente com o barulho do vento e um pôr do sol à meia-noite fantástico. Mesmo assim, com o sol se pondo fica muito claro.

Levantamos com o sol já mostrando o seu encanto e tomamos o nosso café da manhã com o belo visual. Logo, pegamos a estrada, e na fronteira do Canadá foi tudo muito simples e rápido. Depois, seguimos pela Rod. 9, conhecida como Top of the World Highway. Só que tudo em estrada de barro e brita. Se bem que a estrada estava boa, mas se chovesse, volto a dizer, para quem, como nós, não tem os pneus adequados para lama mas tem tempo, restaria parar e esperar as condições melhorarem. Aqui no Canadá também mudam as medidas, valores e pesos. Bem, voltamos ao nosso km, metro e kg. Realmente a estrada é toda em cima das montanhas por mais de 102 km, como falei, sem asfalto. Quando chega próximo à cidade de Dawson City, ainda de cima das montanhas, tem-se uma bela vista. Pena que não tem como parar e tirar foto, pois a estrada é estreita e sem acostamento. Desse ponto em diante começa uma descida bem íngreme que chega até o Rio Yukon. Dali a travessia para a cidade é com uma pequena balsa. A nossa sorte é que éramos o primeiro dos RVs e tínhamos a preferência de entrada na balsa. O Rio estava muito cheio e confesso que fiquei receoso na travessia. Do outro lado do rio a fila estava bem grande, pois não cabe muitos veículos dentro da balsa. Chegamos bem aliviados no outro lado e o “Bisão” também. A balsa é do governo e ninguém paga para atravessar. O funcionário foi muito gentil e entregou um mapa da cidade. Demos uma volta na cidade e estacionamos no Centro de Informação ao Turista. E, como não tinha placa proibindo, passamos a primeira noite neste local.

No dia seguinte, circulamos pela cidade que conserva as ruas em chão batido, ao estilo Velho Oeste, com suas casas mantendo este estilo também. No centro de informação ao turista os funcionários usam roupa da época áurea do ouro. Muito legal a cidade que ainda vive da exploração do ouro, mas em menor escala comparada com a corrida do ouro, e também do turismo. Subimos a montanha Midnight, caminho todo asfaltado, com uma linda vista da cidade, e de lá pudemos observar um espetacular pôr do sol. À noite fomos ver no teatro e cassino um show de can-can muito bem elaborado com a coreografia da época dos cabarés no auge da febre do ouro. Após o show voltamos para dormir no mesmo lugar da noite (força de expressão) anterior e de sobra caiu uma trovoada. Amanhã seguiremos para Whitehorse.

O caminho para Whitehorse se altera entre estrada não pavimentada e pavimentada. Mas, com a chuva que pegamos, fomos devagar até ao nosso destino. O visual é muito bonito e, como já falei antes, viemos por esta rodovia para não repetir o caminho da Alaska Highway. Enfim, um caminho diferente, e para a nossa sorte vimos mais um urso atravessando rapidamente a estrada. Tocamos até uma certa hora e num lugar com vista para o Rio Yukon paramos para dormir. No dia seguinte, sábado com calor forte, chegamos à pequena e bela cidade de Whitehorse, já no final da tarde. Assim, depois de fazer umas compras, dormimos no estacionamento do Walmart para variar.

O Rio Yukon, de cor azul/esverdeado em Whitehorse, contorna toda a cidade, seus parques e ciclovias. Tem um Centro de Informação ao Turista de cair o queixo e uma Biblioteca Pública com wi-fi rápida disponível a todos. Lixeiras bem fechadas por toda a cidade e com coleta seletiva. Sacos plásticos nas praças para juntar as necessidades do seu Pet, e tudo isso público, nada privado e com serviço de qualidade. Eu fico pensando, se os nossos governantes viajassem para aprender como dirigir e administrar uma cidade com qualidade, voltada para o povo, como seriam diferentes as nossas cidades que se dizem turísticas. Se tivesse projeto de governo e não projeto de poder, como seria diferente. Talvez se deixarmos de pensar no individual e nós pensarmos mais no coletivo, mudaria alguma coisa. Por aqui eles pensam em muito no COLETIVO. Bem vamos seguir com a nossa viagem.

Whitehorse é parada obrigatória para quem vai para o Alaska ou para quem vem do Alaska, não tem outro caminho. Aqui aproveitamos para fazer a troca de óleo e a manutenção dos filtros: filtros de ar, filtro de óleo, filtro de combustível e também o filtro de proteção contra a água. A dificuldade por aqui é que na maioria das oficinas não deixam você ficar junto na manutenção, mas isso em função do seguro que não permite. Fui em duas empresas e elas não trocam do nosso carro, ou não queriam mexer pois desconheciam a mecânica. Fui indicado a ir a uma franquia de nome Jiffy Lube que topou fazer a manutenção e permitiu a minha presença para que pudesse orientar como fazer as trocas dos filtros. O Nosso “Bisão” foi o primeiro que trocaram. Não tinham trocado nenhum veículo com motor diesel Euro V. Eu tinha todos os filtros (trouxe do Brasil) e também já tinha comprado no Walmart de Anchorage o óleo dentro das especificações que atendia o motor Euro V Iveco.

Tudo pronto, despedimos dos nossos amigos Marluce e Pires, e também do espanhol de Tenerife José Luís que está com um MH Hymer viajando pelo Canadá e EUA, e pegamos a Rod. 1 Alaska Highway até a Haines Junction. Dali em diante pegamos a Rod. 3 Haines Road, passando pelo encantador Lago Katlheen, onde fizemos uma parada para fotos, e depois seguimos até a entrada da Trilha Kluane na mesma rodovia. Com o irresistível visual das montanhas ao fundo e o do lago na frente, resolvemos dormir no local. Amanhã seguiremos com destino a Haines, que fica na pontinha sul do Alaska.

Acordamos não muito cedo, pois foi uma noite muita tranquila para dormir. O lugar era muito silencioso. Cumprimos com a nossa rotina e resolvemos fazer a trilha do Rock Glacier, com um total de 4 km. É uma trilha muito bonita que se inicia no meio da mata e depois começa a subir em uma trilha em cima de pedras. Logo acima, tem um local para descansar com bancos rodeados de pedra que dá uma vista fantástica para o Dezadeash Lake. Depois de ficarmos um bom tempo lá em cima apreciando a vista voltamos para o estacionamento, pegamos o “Bisão” e seguimos o nosso roteiro. Andamos mais alguns kms e chegamos ao estacionamento que tem a trilha St. Elias, que vai para o lago do mesmo nome. Resolvemos fazer o nosso almoço e logo depois entramos na trilha que num total de ida e volta tem 8 km. O trajeto no começo da trilha é toda feita em cima de deck, pois passa por cima de tundras. Depois segue pelo meio da mata, num eterno sobe e desce. Com receio de encontrar algum urso, nós começamos a falar em voz alta para afastar qualquer urso que possa estar perto da trilha. Encontramos algumas pessoas voltando e passamos por um casal jovem de Toronto que ia pegar a canoa canadense e ir para um Lodge a 20 km remando. Quando chegamos no lago, no meio das montanhas, com águas claras e esverdeadas num perfeito quadro da natureza, ficamos descansando e apreciando a beleza até o casal chegar e pegar a canoa. Após passar um bom tempo resolvemos voltar e, como não tinha nenhum sino para fazer barulho e espantar ursos, peguei duas pedras pequenas e fui batendo elas pelo caminho até chegarmos ao estacionamento. Já era final de tarde e voltamos para a estrada. Mas adiante no Million Dolar Falls, que também é camping, encontramos os brasileiros Wilson Cantelli e sua esposa, que são de Lebon Régis (SC). Foi uma conversa muito legal, mas depois fomos ver a cachoeira que é muito bonita. Logo voltamos para a estrada, aproveitando um pouco ainda da claridade do sol para vermos a paisagem, antes de atravessarmos o passo e entrar novamente no Alaska – Estados Unidos, onde fica a cidade de Haines. Antes de chegarmos no passo, encontramos um local no meio das montanhas para dormir.

A temperatura estava muito boa para nós e foi uma noite bem silenciosa. Após cumprirmos a nossa rotina diária, voltamos a para estrada, parando em cada lugar maravilhoso e tirando muitas fotos. Esse passo até Haines é muito lindo, e a rodovia também. Almoçamos num lugar onde dava vista para as montanhas geladas e fomos parando a cada lugar onde era permitido para tirar fotos e admirar a paisagem. Foi assim até a pequena cidade de Haines. Chegando na cidade fomos à Estação de Serviço, colocarmos água e fizemos um dump no “Bisão”para atender às nossas necessidades. Depois fomos à informação turística que estava fechada. Dali fomos à estação do Ferry fazer a reserva para a nossa travessia até Skagway no Alaska. Conseguimos para sábado dia 29/07/2017. Vamos ficar curtindo a pequena cidade e fazer alguns passeios.

Hoje dia 27/07 fomos passar o dia no Chilkoot Lake, onde os ursos vêm comer o salmão. Tinha muita gente pescando e fisgando salmões muito grandes. Coisa impressionante! Mais próximo do meio dia apareceu um urso grizzy (marrom) nadando e tentando pescar o salmão. Foi muito emocionante e lindo tirar as fotos dele. Foi um dia muito bacana, e já era por volta das 20:00 horas quando íamos procurar um local para estacionar, passamos por uma ponte e de novo vimos mais ursos pescando salmão. Aqui o grande divertimento é ir pescar no lago, andar de kaike e barco ou admirar os ursos e também a águia que vem pescar. A cidade é pequena e no meio dos fiordes.

A nossa rotina diária é visitar a cidade e seus pontos turísticos, passear pelo lago e admirar a natureza desta pequena cidade de Haines. Sobre a nossa travessia de ferry para a Skagway ainda no Alaska, conto no próximo post.


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