Após isso, rumamos pela Rodovia 02, de nome Elliott Highway, até a localidade de Livengood, sendo esta toda pavimentada. Logo após Livengood, começa a Rodovia 11 Dalton Highway, que segue até Prudhoe Bay. No começo tem um pouco de pavimento, depois estrada de terra toda em uma espécie de rípio ou cascalho, enfim, posso considerar boa. Tocamos numa marcha bem legal, tranquilamente 50 km por hora, sem solavancos e nem trepidação. Quase não tinha buraco, como se fosse um pré-asfalto. Depois de alguns quilômetros encontramos o Luís e a Milu voltando. Paramos, conversamos um pouco, e o Luís falou-me que foi até a Linha do Círculo do Ártico.
Nos despedimos e seguimos no nosso trecho, pois falei que iria tocar até onde fosse possível, com muita segurança e não forçando o carro e a casa. Depois seguimos até o Visitor Contact Station (milha 56) após a bela ponte do Rio Yukon. Neste centro de visitantes fomos carinhosamente atendidos por uma senhora que nos forneceu muitos dados sobre os pontos turísticos e também sobre a estrutura da rodovia até Deadhorse/Prudhoe Bay. Ainda nos deu o diploma da visita ao Círculo Polar Ártico.
Reabastecemos de água potável na milha 60 e seguimos até a milha 98 na vista panorâmica da Finger Mountain onde estacionamos para dormir.
No dia seguinte, continuamos até a linha do Círculo Polar Ártico, onde foi uma grande emoção chegar e cruzar essa linha imaginária. Tiramos fotos e comemoramos mais essa nova etapa na realização deste nosso sonho. Conversamos com outras pessoas que estavam neste lugar e outras que estavam chegando para tirar as fotos também. Foi muito tranquilo, pois todos esperavam a sua vez.
A estrada alternava de ruim para pior, mas tinha pedaços com asfalto e muita pedra. Tínhamos que sempre ficar em uma espécie de negociação com os caminhões que vinham na pista contrária para diminuir a velocidade e com isso não jogar pedras no para-brisa do MH. Fazíamos a negociação, com sinal de luz, ligando o alerta e dando espaço e diminuindo a velocidade. E normalmente eram educados e diminuíam a velocidade.
Com os informativos do Centro de Atendimento ao Turista fomos seguindo todos os pontos turísticos pela rodovia até chegarmos a Coldfoot, onde paramos para completar o tanque de combustível para chegarmos com tranquilidade até Prudhoe Bay.
Depois que passou de Sukakpak Mountain tem um passe nas montanhas fantástico!!! Uma das vistas mais lindas de passe que já vi. Logo após descermos o passe, onde tem muito avisos de avalanche tanto de pedra como de neve, as descidas são muito inclinadas e fortes, e a estrada contém muita pedra. Mas o visual é imperdível!!! Na sequência encontramos um grande espaço de estacionamento e já tinha dois caminhões parados, então resolvemos dormir ali. Aqui não dá para dizer que vamos passar a noite, pois no lado deste hemisfério, nesta época do ano, a noite não chega. Para dormir, temos de tapar todas as gretas de claridade, pois o sol vai até a meia noite, e neste local se esconde atrás das montanhas, mas continua claro. Para entender, não anoitece.
Acordamos como sempre claro, cumprimos com a nossa rotina diária, mas aqui o clima ficou um pouco mais frio. Seguimos a estrada no meio de muito cascalho, pequenos e grandes, sendo que com muito cuidado, pois grande parte do trajeto não passa de 15 km por hora. Em outros momentos tem asfalto só para dar um pouco de alegria e botar a 6ª marcha. Mas a alegria dura pouco e continuamos na marcha e na melhor das hipóteses 30 km por hora. Bem, já sabíamos que seria assim, e temos que poupar o nosso carro, pois é uma casa, e por isso vamos na nossa marcha e dando sempre a vez no trânsito para aqueles que estão trabalhando. Enfim, nas últimas 60 milhas as coisas ficam mais complicadas, pois estão construindo praticamente uma rodovia nova. Em grande parte destas milhas vai um carro da empresa na frente e isso atrasa muito a viagem. Ao chegarmos em Prudhoe Bay passamos do horário das 17 horas que seria o limite para a reserva do ônibus da empresa que leva até o mar. Essa distância é de 8 milhas e só se pode ir com o ônibus da empresa. Íamos ficar para fazer a reserva no dia seguinte e o passeio seria no outro dia. Teríamos que dormir duas noites (força de expressão) ali. Tinha muito gelo, frio insuportável, e os carros aqui tem uma tomada de luz na frente para aquecimento. Todo estacionamento tem um plug para eles se conectarem para aquecer no frio. Andamos por tudo tirando muitas fotos, até que chegou uma viatura de polícia perguntando por que estamos tirando tantas fotos. Muita explicação e o policial anotou o meu nome e informou sobre o passeio que estava tudo congelado, e que não daria para tomar um banho no ártico como pretendíamos. Bem, o importante é que chegamos onde pretendíamos e isso para nós é o fundamental. Mas a nossa viagem não terminou aqui, pois temos muita coisa ainda para ver no hemisfério norte. Vamos contando o que vai acontecendo. Mas agora vamos voltar para Fairbanks e conhecer outros lugares do Alaska.
Antes fui reabastecer o MH de diesel na Estação de serviço da Tesoro. O diesel já vem aditivado para inverno e como já comentei é o S15. Como passava da hora, você tem que entrar numa sala onde tem uma espécie de ATM (caixa eletrônico) com o mesmo número da bomba de combustível. Ali você passa o cartão e o retira. A máquina aprova seu reabastecimento e você levanta uma porta onde está a bomba protegida do frio, da neve e da chuva. Assim que terminar, você volta até a máquina e pega o seu recibo com os dados do reabastecimento. Muito prático.
Bem, com chuva e frio, começamos a voltar. A nossa ideia era de passar o pedaço em que estão trabalhando de forma mais intensiva, que é também pior, o qual dá em torno de 60 milhas. Logo que passamos já era perto das 22:00 horas e dia ainda, e resolvemos parar para dormir.
Acordei lá pelas 05:30 horas e o dia estava encoberto por uma serração. Voltei a dormir e esperar o sol novamente. Lá pelas 09:00 o dia estava com um sol intenso e a planície estava muito bonita com a luz solar.
Tocamos até a subida do passe e, como aqui acontece tudo muito rapidamente, mudou o tempo. Veio muita chuva, e a estrada ficou muito escorregadia. Neste trecho tem subidas e descidas com ângulo muito inclinado, fora do comum, e não resolvemos arriscar. Por medida de segurança, achamos um espaço adequado e resolvemos parar, jantar e descansar. O negócio é esperar que o tempo melhore para que a estrada possa secar um pouco.
No outro dia a chuva deu uma trégua, começou a aparecer uns raios de sol, e muitos caminhões grandes que são tracionados passaram e deixaram um rastro seco. Assim, aproveitamos o momento e tocamos. Assim foi, com paradas por estarem arrumando a estrada, chegamos até ao meio dia na beira de um riacho e já num pedaço que continha asfalto resolvemos fazer o nosso almoço. Depois de almoçar e curtir o local, pois era muito bonito, continuamos a pegar a estrada. Andamos um bom trecho e logo veio a chuva novamente. Continuamos mesmo assim com todo cuidado até que chegou o momento que começou a querer o carro a ficar sem tração, e por nossa sorte logo em seguida tinha uma entrada para as obras no Pipeline com cascalho e ali resolvemos parar e aguardar que a pista seque novamente. Foram algumas horas esperando e vendo aqueles caminhões grandes levando placa de isopor onde estão utilizando para isolamento na construção da rodovia. Vimos eles colocarem uma manta, o isopor e depois espalham pedra em cima e vão passando o rolo até ficar com a base, creio que daqui a algum tempo a rodovia deverá estar toda asfaltada. Vai acabar esse sofrimento e encantamento também. Pois a Dalton Highway que inicia em Livengood até Deadhorse é fantástica, com belas paisagens, e uma rodovia desafiante que, mesmo quando tudo estiver com asfalto, tem-se que ter muita atenção em dirigir nela.
Bem, começou a ter um trilho mais seco e resolvemos tocar novamente. Quando vinha um veículo do lado contrário, ligamos o alerta, e muito devagar tiramos o carro do trilho para que normalmente os caminhões passem. Eles também diminuem a velocidade. Até o momento não posso me queixar deles. Tocamos um trecho não muito grande, algo em torno de 16 km, e estávamos perto das 60 milhas, num camping da BLM que é free, com água potável excelente e também estação de dump station (descarregar o banheiro e água potável). Ali resolvemos ficar por uns dias e pôr a casa em dia, pois o MH estava completamente sujo de barro e precisávamos limpar e organizar novamente. Daqui para a cidade de Livengood são 108 km e de lá até Fairbanks é asfalto. Vamos descansar um pouco pois as emoções em todos os sentidos foram muito fortes.
Bem, ficamos alguns dias descansando em Fairbanks, aproveitando para conhecer a cidade que tem muitas praças, parques, rios e lugares para caminhar. Aproveitamos também para reparar um dente da Valquíria, pois quebrou na ida para Prudhoe Bay. Aguardamos o contato do seguro e fomos atendidos muito bem na Clínica Alaska Dental. A Valquíria ficou muito contente com o serviço executado por eles; quando formos para o Brasil teremos que fazer um serviço definitivo.
Em tempo: tem um parque muito legal aqui que é o Pioneer Park, com área para camping e passar o dia. Tudo free, a não ser o museu da aeronáutica, que paga $4 (quatro dólares) e é muito legal, com fotos dos pioneiros na aviação do Alaska. Vale a pena visitar. Tem também o museu do trem, que conta a história do desenvolvimento através do ouro na região. No centro de informação turística tem apresentação diária de grupo folclórico das diversas regiões do Alaska. Foram dias muito proveitosos para descansar da aventura de ir e voltar a Prudhoe Bay.
Amanhã seguimos em direção ao Denali National Park e à região do Oceano Pacífico, mais isso vamos contar nos nossos próximos posts.